No passado domingo participei no
meu 1º trail, mas primeiro, a Corrida do Benfica.
Eu adoro praticar desporto, e
já há algum tempo que a atividade desportiva faz parte das minha vida, mas
sempre treinei entre quatro paredes, rodeada por outras pessoas e com um
instrutor a motivar-me, nunca treinei, nem sozinha, nem ao ar livre. Há algum
tempo que queria começar a correr, mas não fui capaz de o fazer na atura em que
tomei essa decisão e também não fui capaz de o fazer na altura em que fui para
o Rio de Janeiro, antes da viagem pensava que esse seria o local ideal para dar
asas a esta minha vontade, mas isso não chegou a acontecer. Passado cerca de uma semana de ter chegado a
Portugal e, após três meses sem treinar, tempo em que estive no Brasil, decidi juntar-me
com a Coimbra Trail Running para correr. Não aguentei sequer 1km, senti-me
tonta, ofegante, o meu coração queria saltar da boca para fora, não consegui
dar mais de mim. O grupo foi muito simpático, queriam criar um sub-grupo que eu
pudesse acompanhar mas eu não aceitei. Desisti, nem queria acreditar que tinha
desistido, mas desisti daquele treino, não desisti do meu objetivo, o objetivo
de dia 19 de abril percorrer os 10km da Corrida do Benfica, faltava pouco mais
de um mês para esse dia. Tomei a decisão de fazer esse percurso comigo mesma,
então, treinei muitas vezes sozinha e algumas vezes com uma amiga que teve
paciência para o meu ritmo.
Sábado do fim-de-semana da
corrida, dia em que fui para Lisboa, no momento em que acordei, chegou a passar-me pela cabeça não
fazer a prova. Sentia-me muito mal preparada, durante os treinos nunca consegui
fazer mais do que 5Km, na semana que antecedeu a prova fiz apenas 6,4Km, 3,4 na
segunda-feira e 3 na terça-feira. Ponderei o que é que seria pior, ficar em
Coimbra e nem sequer tentar, ou desistir a meio da prova. Decidi tentar.
Domingo de manhã voltei a pensar não fazer a prova, não queria voltar a passar
pela sensação de desistir. Bem… Decidi seguir em frente. Fiz as minhas
panquecas de aveia para o pequeno-almoço, vesti a camisola da prova, linda,
Adidas com o símbolo do Benfica, e de seguida quase que tenho um ataque de
coração quando me apercebo que me tinha esquecido das lentes de contacto em
Coimbra. “E o que é que eu faço agora?!!” pensei eu na altura. Hipóteses: fazer
a prova de óculos (algo extremamente desconfortável para quem só usa óculos
para descansar a vista das lentes de contacto e nunca na vida treinou de óculos)
ou fazer a prova à pitosga (extremamente inviável uma vez que tenho 4,75
dioptrias num olho e 4,25 no outro). Escolhi fazer a prova de óculos e, durante
o aquecimento, que para mim foi correr devagar desde o Colombo até à meta, vi
que não havia condições para correr de óculos e lá fiz o percurso a ver apenas
vultos há minha volta.
Iniciei a corrida a um ritmo
lento, sabia que não me podia desgraçar logo no início, sabia que tanto as
minhas pernas como o meu coração iriam ter que ser muitos fortes e que havia
ainda muita estrada pela frente. Fiz todo o percurso concentradíssima,
focalizada no meu objetivo: acabar a prova sem terminar a caminhar. Por volta
do km 2, uma senhora simpática aproxima-se e diz-me para eu descontrair os
braços, ia muito rígida, confidenciei-lhe que era a minha primeira prova e
tentei seguir o seu conselho. Continuo em direção a uma das metas do percurso,
a passagem pelo Estádio da Luz. Quando entramos no local onde a camioneta do
Benfica estaciona nos dias de jogo todos começam a entoar “SLB, SLB, SLB, SLB,
glorioso, SLB, glorioso SLB”, como gostaria de ter juntado a minha voz à dos
restantes participantes mas estava demasiado ofegante. Entramos dentro do
estádio e a sensação é maravilhosa, paro, peço a alguém para me tirar uma foto,
coloco os óculos para apreciar a magnificência do estádio ao nível do relvado,
e ouço o speaker anunciar que já
havia vencedor da prova, estávamos no km 4!! Revigorada pelos minutos dentro do
estádio sigo para os 6 km que me faltavam. Da segunda metade da prova guardo a
lembrança da subida antes de chegar ao km 7, eu só pensava quando raio é que se
dava a volta para voltar para baixo, e, do último km que foi de um sofrimento
imenso, depois de visto o placard a
indicar o km 9 volta meia eu pegava no telemóvel e olhava para o ecrã para ver
quantos metros é que faltavam para a meta. Estava no limite das minhas forças,
mas não conseguia parar de pensar que tinha acabar a prova sem terminar a
caminhar. No desporto como na vida, o trilho do caminho mais difícil de
percorrer é aquele em que estamos mais perto de alcançar o objetivo. Corto a
meta a correr e tenho vontade de chorar, não de verter uma lágrima, mas chorar
a sério, objetivo cumprido! Não é possível descrever a sensação que inunda o
corpo, a mente e o espírito, no momento em que conseguimos alcançar os
objetivos com os quais estamos comprometidos.
Não tem importância absolutamente
nenhuma mas deixo o registo dos meus números:
Segundo o meu aplicativo fiz a
prova em 1h08min, o tempo de chip foi 1h11min e o tempo de prova 1h15min.
Fiquei em 5385º lugar na geral e 606º lugar de escalão. Tenho a certeza que os 3min
de diferença entre o aplicativo do meu telemóvel e o tempo de chip são aqueles
instantes em que estive parada a admirar o estádio de uma pespetiva diferente
daquela a que estou habituada.
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