terça-feira, 28 de abril de 2015

A Minha Primeira Corrida

No passado domingo participei no meu 1º trail, mas primeiro, a Corrida do Benfica.


Eu adoro praticar desporto, e já há algum tempo que a atividade desportiva faz parte das minha vida, mas sempre treinei entre quatro paredes, rodeada por outras pessoas e com um instrutor a motivar-me, nunca treinei, nem sozinha, nem ao ar livre. Há algum tempo que queria começar a correr, mas não fui capaz de o fazer na atura em que tomei essa decisão e também não fui capaz de o fazer na altura em que fui para o Rio de Janeiro, antes da viagem pensava que esse seria o local ideal para dar asas a esta minha vontade, mas isso não chegou a acontecer. Passado cerca de uma semana de ter chegado a Portugal e, após três meses sem treinar, tempo em que estive no Brasil, decidi juntar-me com a Coimbra Trail Running para correr. Não aguentei sequer 1km, senti-me tonta, ofegante, o meu coração queria saltar da boca para fora, não consegui dar mais de mim. O grupo foi muito simpático, queriam criar um sub-grupo que eu pudesse acompanhar mas eu não aceitei. Desisti, nem queria acreditar que tinha desistido, mas desisti daquele treino, não desisti do meu objetivo, o objetivo de dia 19 de abril percorrer os 10km da Corrida do Benfica, faltava pouco mais de um mês para esse dia. Tomei a decisão de fazer esse percurso comigo mesma, então, treinei muitas vezes sozinha e algumas vezes com uma amiga que teve paciência para o meu ritmo.


Sábado do fim-de-semana da corrida, dia em que fui para Lisboa, no momento em que acordei, chegou a passar-me pela cabeça não fazer a prova. Sentia-me muito mal preparada, durante os treinos nunca consegui fazer mais do que 5Km, na semana que antecedeu a prova fiz apenas 6,4Km, 3,4 na segunda-feira e 3 na terça-feira. Ponderei o que é que seria pior, ficar em Coimbra e nem sequer tentar, ou desistir a meio da prova. Decidi tentar. Domingo de manhã voltei a pensar não fazer a prova, não queria voltar a passar pela sensação de desistir. Bem… Decidi seguir em frente. Fiz as minhas panquecas de aveia para o pequeno-almoço, vesti a camisola da prova, linda, Adidas com o símbolo do Benfica, e de seguida quase que tenho um ataque de coração quando me apercebo que me tinha esquecido das lentes de contacto em Coimbra. “E o que é que eu faço agora?!!” pensei eu na altura. Hipóteses: fazer a prova de óculos (algo extremamente desconfortável para quem só usa óculos para descansar a vista das lentes de contacto e nunca na vida treinou de óculos) ou fazer a prova à pitosga (extremamente inviável uma vez que tenho 4,75 dioptrias num olho e 4,25 no outro). Escolhi fazer a prova de óculos e, durante o aquecimento, que para mim foi correr devagar desde o Colombo até à meta, vi que não havia condições para correr de óculos e lá fiz o percurso a ver apenas vultos há minha volta.

Iniciei a corrida a um ritmo lento, sabia que não me podia desgraçar logo no início, sabia que tanto as minhas pernas como o meu coração iriam ter que ser muitos fortes e que havia ainda muita estrada pela frente. Fiz todo o percurso concentradíssima, focalizada no meu objetivo: acabar a prova sem terminar a caminhar. Por volta do km 2, uma senhora simpática aproxima-se e diz-me para eu descontrair os braços, ia muito rígida, confidenciei-lhe que era a minha primeira prova e tentei seguir o seu conselho. Continuo em direção a uma das metas do percurso, a passagem pelo Estádio da Luz. Quando entramos no local onde a camioneta do Benfica estaciona nos dias de jogo todos começam a entoar “SLB, SLB, SLB, SLB, glorioso, SLB, glorioso SLB”, como gostaria de ter juntado a minha voz à dos restantes participantes mas estava demasiado ofegante. Entramos dentro do estádio e a sensação é maravilhosa, paro, peço a alguém para me tirar uma foto, coloco os óculos para apreciar a magnificência do estádio ao nível do relvado, e ouço o speaker anunciar que já havia vencedor da prova, estávamos no km 4!! Revigorada pelos minutos dentro do estádio sigo para os 6 km que me faltavam. Da segunda metade da prova guardo a lembrança da subida antes de chegar ao km 7, eu só pensava quando raio é que se dava a volta para voltar para baixo, e, do último km que foi de um sofrimento imenso, depois de visto o placard a indicar o km 9 volta meia eu pegava no telemóvel e olhava para o ecrã para ver quantos metros é que faltavam para a meta. Estava no limite das minhas forças, mas não conseguia parar de pensar que tinha acabar a prova sem terminar a caminhar. No desporto como na vida, o trilho do caminho mais difícil de percorrer é aquele em que estamos mais perto de alcançar o objetivo. Corto a meta a correr e tenho vontade de chorar, não de verter uma lágrima, mas chorar a sério, objetivo cumprido! Não é possível descrever a sensação que inunda o corpo, a mente e o espírito, no momento em que conseguimos alcançar os objetivos com os quais estamos comprometidos.
Não tem importância absolutamente nenhuma mas deixo o registo dos meus números:
Segundo o meu aplicativo fiz a prova em 1h08min, o tempo de chip foi 1h11min e o tempo de prova 1h15min. Fiquei em 5385º lugar na geral e 606º lugar de escalão. Tenho a certeza que os 3min de diferença entre o aplicativo do meu telemóvel e o tempo de chip são aqueles instantes em que estive parada a admirar o estádio de uma pespetiva diferente daquela a que estou habituada.

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